IA representa ameaça para a economia

Os números do Vale do Silício há muito alertam sobre os perigos da inteligência artificial (IA). Agora a sua ansiedade migrou para outras esferas do poder: o sistema jurídico, as reuniões globais de líderes empresariais e os principais reguladores econômicos.

O Fórum Económico Mundial em Davos, Suíça, divulgou uma pesquisa que concluiu que a desinformação alimentada pela IA representa o maior ameaça de curto prazo para a economia global.

Esses relatórios surgiram poucas semanas depois de o Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira em Washington ter dito que a IA poderia resultar em “danos diretos ao consumidor” e Gary Gensler, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (SEC), ter alertado publicamente sobre a ameaça à estabilidade financeira de numerosos investimentos.

Empresas que dependem de modelos de IA semelhantes para tomar decisões de compra e venda.

Na conferência anual do Fórum Económico Mundial para os principais CEOs, políticos e multimilionários, realizada numa elegante cidade suíça de esqui, a IA é um dos temas centrais e um tópico em muitos dos painéis e eventos.

Num relatório divulgado na semana passada, o fórum afirmou que o seu inquérito a 1.500 decisores políticos e líderes da indústria descobriu que notícias falsas e propaganda escritas e impulsionadas por chatbots de IA são o maior risco para a economia global. 

Cerca de metade da população mundial participa nas eleições deste ano em países como os Estados Unidos, o México, a Indonésia e o Paquistão e os investigadores da desinformação estão preocupados que a IA tornará mais fácil para as pessoas espalharem informações falsas e aumentarem os conflitos sociais.

O mundo está de olho nas “ameaças” da IA

Os propagandistas chineses já estão usando IA generativa para tentar influenciar a política em Taiwan, informou o Washington Post na sexta-feira. Conteúdo gerado por IA está aparecendo em vídeos de notícias falsas em Taiwan, disseram autoridades do governo.

O relatório do fórum surgiu um dia depois de a FINRA, no seu relatório anual, ter afirmado que a IA despertou “preocupações sobre precisão, privacidade, preconceito e propriedade intelectual”, ao mesmo tempo que oferece potenciais ganhos de custos e eficiência.

E em Dezembro, o FSOC do Departamento do Tesouro, que monitoriza o sistema financeiro em busca de comportamentos de risco, disse que falhas de concepção de IA não detectadas poderiam produzir decisões tendenciosas, como a negação de empréstimos a candidatos que de outra forma seriam qualificados.

A IA generativa, que é treinada em enormes conjuntos de dados, também pode produzir conclusões totalmente incorretas que parecem convincentes, acrescentou o conselho. O FSOC, presidido pela Secretária do Tesouro, Janet L. Yellen, recomendou que os reguladores e o setor financeiro dediquem mais atenção ao acompanhamento dos riscos potenciais que emergem do desenvolvimento da IA.

À medida que a IA se torna mais complexa e capaz, alguns especialistas preocupam-se com a automação da “caixa preta”, que é incapaz de explicar como chegou a uma decisão, deixando os humanos incertos sobre a sua solidez. 

Sistemas mal concebidos ou geridos podem minar a confiança entre comprador e vendedor, necessária para qualquer transacção financeira, disse Richard Berner, professor clínico de finanças na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque.

“Ninguém fez um cenário de estresse com as máquinas funcionando descontroladamente”, acrescentou Berner, primeiro diretor do Escritório de Pesquisa Financeira do Tesouro.

Já no Vale do Silício, o debate sobre os perigos potenciais em torno da IA ​​não é novo. Mas ganhou força nos meses que se seguiram ao lançamento do ChatGPT da OpenAI no final de 2022, que mostrou ao mundo as capacidades da tecnologia da próxima geração.

No ano passado, políticos e decisores políticos de todo o mundo também lutaram para compreender como a IA se irá enquadrar na sociedade. O Congresso realizou várias audiências. O presidente Biden emitiu uma ordem executiva dizendo que a IA era “a tecnologia de maior importância do nosso tempo”. 

O Reino Unido convocou um fórum global sobre IA, onde o primeiro-ministro Rishi Sunak alertou que “a humanidade poderia perder completamente o controle da IA”. As preocupações incluem o risco de que a IA “generativa” – que pode criar texto, vídeo, imagens e áudio – possa ser usada para criar desinformação, deslocar empregos ou mesmo ajudar pessoas a criar armas biológicas perigosas.